Paradoxos eleitorais

INFOLATAM – Luis Rubio

Eleições México

 Ao final, todos ganharam algo que permitirá que a vida política siga adiante. O que se sofreu foram as excessivas expectativas de alguns dos concorrentes, estivessem nas cédulas eleitorais ou não. Ou seja, o México continua vivendo a normalidade.

Este primeiro grupo de eleições locais nos seis anos de Enrique Peña Nieto era binário: sua importância seria dramática ou irrelevante. Não teria meio termo. A relevância das eleições de domingo passado nada tinha a ver com as eleições mesmo, as localidades específicas ou os candidatos envolvidos. Sua transcendência derivava-se do mecanismo criado pelo presidente Peña Nieto para coordenar os três principais partidos políticos e avançar uma agenda de reformas: o chamado “Pacto pelo México”. O instrumento converteu-se em um mecanismo que permitiu romper o impasse legislativo e político dos últimos quinze anos, mas que não goza de consenso entre as forças políticas, onde jaz sua debilidade. Daí que este conjunto de votos tenha se convertido em uma prova de fogo para todos os envolvidos.

Uma “carroça completa”, a forma na qual os priistas historicamente descreviam seus resultados abrumadores, teria dado um golpe mortal ao Pacto. Como era de se esperar, o resultado não foi tão dramático e cada um dos partidos pode afirmar que conseguiu vitórias suficientes para sair mais ou menos bem. Estas eleições acabaram sendo não tão importantes, mas mostram a fragilidade institucional que caracteriza o México.

Na ausência de poderes públicos devidamente institucionalizados e separados, sobretudo o poder legislativo e o executivo, o pacto resultou ser um instrumento que provou ser formidável para seu propósito específico, ainda que igualmente gerador de controvérsias, ódios e conflitos no interior dos partidos políticos. A forma em que o pacto operou diz tudo: seus integrantes -representantes dos três partidos grandes (PAN, PRI e PRD) e do governo- negociam os termos de cada uma das reformas, o passam ao congresso, onde seus acólitos o processaram em matéria de horas, transferindo-o depois ao senado, onde se tem atolado cada vez. A razão deste último pouco tem a ver com o conteúdo das iniciativas propostas (ainda que seja necessário reconhecer que tanto a reforma educativa como a de telecomunicações saíram enriquecidas do senado), mas com a contraposição -crise seria melhor termo- interna que experimentam tanto o PAN como o PRD. Mas o ponto de fundo não pode ser perdido de vista: por mais útil que seja, o pacto pretende suplantar as funções do poder legislativo, fator que inexoravelmente gera conflito.

Os três partidos enfrentam problemas internos. Ainda que o PRI governe e tenha conseguido encobrir suas fissuras, as circunstâncias dos últimos períodos permitiram-lhe recobrar o poder sem reformar-se e é de se antecipar que as divisões vão aflorar na medida em que o governo tente afetar interesses, precondição para qualquer reforma. As eleições de ontem sugerem que, ainda que alguns priistas tenham ganho, nem todos os triunfos são bons para o poder presidencial e para seu projeto de concentração do poder.

O caso do PRD é diferente: produto da fusão de duas histórias, a esquerda histórica e a esquerda do PRI, agora experimenta o desafio de construir uma social democracia moderna e, ao mesmo tempo, recuperar essa base de eleitores que apoiaram um projeto estatista e reacionário liderado por López Obrador, que já não cabe no PRI e que é incompatível com uma esquerda moderna e cosmopolita. Para o PRD, era crucial conseguir vitórias suficientes que justificassem a aposta pelo pacto, circunstância que conseguiu com acréscimos.

O PAN enfrenta uma divisão e uma crise de legitimidade. A divisão reflete uma luta profunda entre as forças do calderonismo, que não soube empregar o poder para construir o partido, e os panistas mais tradicionais, que são produto da cidadania. Sua crise de legitimidade tem a ver com sua pouca destreza política como governo e, sobretudo, com a corrupção da qual foram presa estando no poder. O (aparente) triunfo do PAN na Baixa Califórnia fortalece Gustavo Madero, presidente do PAN, e diminui o poder dos calderonistas no senado.

O resultado final reflete três coisas: uma democracia ativa mas imatura e sem fontes institucionais de apoio; governadores convencidos de que sua vida e seu futuro estavam em jogo nas urnas e, portanto, dispostos a qualquer arbitrariedade; e um eleitorado impossível de se classificar em categorias analíticas ou ideológicas pré-estabelecidas. Isto é, as eleições refletiram um país que se move, ao mesmo tempo em ocasiões de protesto, apesar da debilidade de suas instituições.

Caso se confirmem os primeiros resultados, todos os partidos ganharam suficiente para não perder a cara. O PAN reteve a Baixa Califórnia, recuperou a cidade de Aguascalientes, Oaxaca, Puebla e municípios importantes em Tamaulipas e Veracruz. O PRI ganhou Tijuana, a cidade de Veracruz, Chihuahua, Hidalgo e Quintana Roo. O PRD, que foi em aliança com o PAN em vários lugares, ganhou porque sua estratégia funcionou e porque não retrocedeu. Quem sabe a mensagem principal do eleitorado é a de que as coisas retornaram à normalidade com o PRI como primeira força, o PAN como segunda e o PRD como terceira. Nada novo sob o sol.

O grande paradoxo é que as pessoas votam, sobretudo em eleições locais, em função de suas circunstâncias particulares e não com a perspectiva que os políticos e os analistas antecipavam e à qual atribuíam um significado cósmico. Não resta dúvida que muito estava em jogo nestas eleições pelas brigas internas que vivem os partidos, mas não pelos processos eleitorais propriamente ditos. A grande derrotada foi a violência que muitos supunham que seria a nota do dia. O grande triunfo é para quem propõem-se a avançar uma agenda de reforma fora dos canais tradicionais. Paradoxos de ida e volta.

Traduzido por Infolatam

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